País: Brasil
Gênero: Aventura/Adaptação
Ano: 2015
Duração: 105 minutos
23/02 (***) Bom
Aproveitei essa segunda à noite de sinal aberto dos Canais Tele Cine para assistir Faroeste Caboclo. Sim, aquela música que todos falavam ser uma das mais longas brasileiras. Sempre que a escutava bolava um pequeno filme em seus 9 minutos de música. Me perguntei, naquela época, por que ainda não havia um longa-metragem partindo dela.
Desta vez João não quer falar com o presidente, para ajudar "toda essa gente" que sofre. O longa não tem essa ambição, essa vocação midiática. Diferenciando-se de Somos Tão Jovens, em que Renato Russo sempre tem sua platéia, o João de Santo Cristo do filme não é visto pelas "câmeras de TV", nem pelo "povo a aplaudir".
O diretor estreante René Sampaio acerta nessa escolha de um roteiro menos extraordinário do que a letra indicava. João, um matuto da cidade de Santo Cristo que nos anos 1970 ruma à Brasília, buscando além do amor e a morte, um futuro diferente. É um herói solitário como os bons tipos condenados dos westerns, que não tem com quem falar sobre seu enfadado destino, e ao tornar mais íntima essa jornada, negando a audiência da "Via Crúcis que virou circo", o filme dá um toque mais triste a música.
Sampaio faz ótimas escolhas que potencializam a história de João, e filma o tão aguardado embate contra Jeremias (Felipe Abib) com aquela pegada dos faroestes das antigas, cortando do plano aberto direto para os close-ups. Para mim, o maior acerto é a escolha do bom baiano Fabricio Boliveira (que se perde na Globo, fazendo papéis secundários em novelas) para interpretar o protagonista. Como a canção não deixa claro a raiz étnica (diz que Santo Cristo sofria preconceito por sua cor), seria muito fácil, e até mercadológico, colocar um ator negro como herói, uma forma de atender a maioria dos brasileiros.
Faroeste Caboclo não é lá umas das melhores adaptações sobre qualquer tipo de texto, mas serve bem para nos lembrar de questões raciais que o Brasil - no eterno atropelo de querer que o nosso prometido Futuro chegue logo; atropelo do qual Brasília sempre foi símbolo - finge que não existem mais, sendo maquiado muitas vezes. Não é por acaso que o filme deixa de fazer referências à ditadura (nada de generais ou "bombas em bancas de jornal"): mais do que um Estado de Sítio, o Brasil do filme é o Brasil do hoje.
ruim(*) regular(**) bom(***) muito bom(****) excelente(*****)