terça-feira, 31 de março de 2015

O Retrato de Dorian Gray (Dorian Gray)


País: Inglaterra
Gênero: Drama
Ano: 2009
Duração: 112 minutos

30/03 (**) Regular
Baseado em livro homônimo de Oscar Wilde (1854-1900), o  filme é uma falta de respeito à memória do grande escritor. Diante do mau uso do personagem em A Liga Extraordinária, O Retrato de Dorian Gray​ seria um grato retorno do jovem eterno ao cinema, mas o filme do diretor londrino Oliver Parker também não faz justiça ao único romance de Wilde.

Mais conhecido pelo papel do príncipe Caspian na franquia As Crônicas de Nárnia, Ben Barnes foi o escolhido para viver Dorian e não foi uma das melhores opções. Se bem que poucos atores fariam melhor com um roteiro tão fraco, mas Barnes também não ajuda. Ele entrega uma atuação muito genérica e nada profunda, não representando um dos personagens históricos da literatura. Dá a entender que Barnes interpretou não envelhecer como significado de não ter expressões faciais.

Dorian Gray é um rapaz pinta e inexperiente que é apresentado à "high society" por Henry Wotton (Colin Firth). Além da amizade com Wotton, Gray cultiva uma relação próxima com Basil Hallward (Ben Chaplin), um artista que resolve pintar um retrato seu. Ao dar uma olhada no quadro, Dorian faz a promessa de que daria tudo para permanecer com o visual nele estampado. Dorian, então, passa a manter a mesma aparência com o passar do tempo, o que não acontece com a pintura.

Nada em O Retrato de Dorian Gray tem muito destaque, nem mesmo a atuação de Firth (aliás, o espectador fica com raiva do personagem dele, que coloca Gray na perdição, e que no final tenta uma redenção em prol da sua filha) , que é mais próxima das que vi em Bridget Jones, O Discurso do Rei e em Kingsman.

Ironicamente, O Retrato de Dorian Gray, com a perfeição britânica na ambientação, nos figurinos e nas maquiagens, mas raso em conteúdo, ilustra uma das questões que Wilde levanta no romance, a das obras de arte belas por fora e ocas por dentro. Se o filme motivar as pessoas a lê-lo, já terá cumprido o seu papel.

Ruim(*) Regular(**) Bom(***) Ótimo(****) Excelente(*****)

sexta-feira, 27 de março de 2015

O Sétimo Filho (The Seventh Son)


País: EUA
Gênero: Aventura/Fantasia
Ano: 2014
Duração: 103 minutos

27/03 (**) Regular
Os trailers vistos na grande tela do cinema nos causam tremendo impacto. Como já assisti diversos filmes seguindo essa "onda" dos trailers, muitas vezes me senti ludibriado. Neste quesito se enquadra O Sétimo Filho, não somente conseguindo me ludibriar, mas também a ele próprio. Dos cenários aos efeitos, esse filme baseado em um livro quer entrar numa categoria já abarrotada de títulos. Para o elenco dois atores já premiados pela acadêmia, Julianne Moore e Jeff Bridges, juntando-se a Ben Barnes, buscam dar sentido ao livro de Joseph Delaney. Mesmo com atores altamente premiados, o filme não consegue ser lá essas coca-cola toda.


Dou uma ressalva no visual de O Sétimo Filho que é de qualidade e não afasta o espectador da fantasia sugerida, como ocorre em outras franquias (Ex.: Crepúsculo). Todas os seres e os pequenos cenários pelos quais eles permeiam são reproduzidos de maneira autêntica. A produção tem seu valor no longa. Na contramão, o roteiro é emperrado não tem grande impacto como Jogos Vorazes, numa breve comparação. Os diálogos são previsíveis o bastante pra qualquer criança com menos de 7 anos compreender facilmente o que se passa.

Na história, John Gregory (Bridges) é um Caça-Feitiço, um tipo de caçador de criaturas das trevas, em busca de um novo aprendiz. Após anos de insucesso, sua última esperança é o jovem Thomas Ward (Barnes), o sétimo filho de um sétimo filho, que logo na primeira missão precisa enfrentar a Mãe Malkin (Moore), uma das bruxas mais poderosas da região protegida por Gregory. Ela é capaz de se transformar em um dragão gigante, além de comandar uma série de criaturas nas redondezas.

Moore e Bridges poderiam ter salvado o filme, porém atuam além do modo automático, tornando assim o ponto fraco dele. Não vou mentir que os diálogos também não ajudaram muito, pois sempre levam para a patifaria ou pilantragem. Apesar disso, Jeff Bridges abusa das caras e bocas no seu personagem, tornando o personagem enjoado. Moore tenta até dar classe a sua personagem, mas esbarra nos diversos tipos de bruxa má interpretados até então.

Um dica pros estúdios: Invistam em melhores roteiros, para que o sucesso dos filmes não dependa só dos atores. O Sétimo Filho é um exemplo disso, distanciando até o espectador de um lida ocasional ao livro que inspira o filme.

ruim(*) regular(**) bom(***) muito bom(****) excelente(*****)

segunda-feira, 9 de março de 2015

Kingsman - Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service)


País: EUA/Reino Unido
Gênero: Ação
Ano: 2015
Duração: 129 minutos

09/03 (****) Muito Bom
Matthew Vaughn e Mark Millar criaram Kingsman depois de ver 007 - Cassino Royale​ (2006). A ideia da dupla, a priori, era descobrir a trajetória até a “licença para matar” de James Bond. Na adaptação da HQ para o cinema, porém, Vaughn não apenas conta a história de origem de um super espião, mas faz de Kingsman: Serviço Secreto  a mais insana e divertida homenagem ao agente 007 e seus colegas de profissão.

O herói em ascensão é Gary “Eggsy” Unwin (Taron Egerton), um garoto rebelde e pobre de Londres que descobre a sua chance de salvação no legado do pai, um antigo membro da Kingsman. Na agência secreta, em meio a candidatos privilegiados, frutos da nobreza britânica, Eggsy precisa aplicar a sabedoria das ruas à educação de um verdadeiro cavalheiro. Galahad (Colin Firth) é o seu guia em uma versão atual da Távola Redonda, que também conta com Lancelot (Jack Davenport), Merlin (Mark Strong) e o rei Arthur (Michael Caine).

A luta de classes é apenas um dos pontos de um filme que consegue alternar feminismo, estereótipos variados, machismo, quebra de clichês, violência e entretenimento. A falta de concordância segue por todos os lados. Se defende a nobreza, a superioridade intelectual e a elegância dos Kingsman, também condena a fama vazia e o dinheiro como vantagem social. O pobretão Eggsy é o protagonista, mas seus pares menos afortunados do proletariado londrino são retratados como ignorantes, cachaceiros e sem modos. Se duas ótimas personagens femininas - a vilã Gazelle (Sofia Boutella) e a mocinha Roxy (Sophie Cookson) - têm espaço para desenvolver suas personalidades sem precisar servir de interesse amoroso para ninguém, o longa persiste em sexismos que nem mais James Bond se atreve a reproduzir. Tudo coroado pela capacidade de Vaughn de dar cores de desenho animado à violência pesada.

São tantas coisas ao mesmo tempo, tantas possibilidades de discussão, e ainda assim Kingsman evita ser vítima da própria ousadia. O segredo está no equilíbrio entre os opostos, como na escalação de Colin Firth. O filme (escrito por Vaughn e Jane Goldman, sua parceira oficial desde Stardust: O Mistério da Estrela) usa a fachada de bom moço do ator, conhecido por interpretar reis, nobres e outros tipos benquistos, para criar o mais mortal e cordial dos espiões. A desconstrução de imagens também vale para o vilão. A figura franzina de Valentine pouco lembra a imponência de Samuel L. Jackson, que esconde o vozeirão em uma língua casualmente presa (que a cada fala arranca gargalhadas da platéia). A participação de  Mark Hamill, às vésperas do seu retorno como Luke Skywalker, é outra cereja em um bolo de cultura pop.

Vaughn justificou sua saída da direção de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (a continuação do seu X-Men: Primeira Classe) pela necessidade de criar algo novo. Conseguiu. Ainda que nascido de um pacote de referências, Kingsman é um produto criativo que substitui todos os gêneros que o inspiraram: os quadrinhos, a espionagem, a ação e a comédia. Contada a sua origem, Eggsy só precisa agora provar se tem o mesmo fôlego de 007 para as sequências (que com certeza, devido ao sucesso do filme, virão).

ruim(*) regular(**) bom(***) muito bom(****) excelente(*****)